Os olhos dela, não mais matreiros, apenas infantis, um gemido torcendo-lhe nos lábios como se sorrisse, as orelhas pontiagudas despontando do cabelo, de cada lado, como as orelhinhas frágeis de um duende, tudo caía em espiral. O rapaz puxou as melenas para o lado, com a própria mão muito fria, enquanto lhe procurava os olhos no caos das luzes, sem os encontrar.
Inesperadamente, o rapaz sentiu-se tranquilo, como se descansasse entre os lençóis, de madrugada, ao lado de alguém que não recordava bem o nome, sem o rosto, nem a insónia. Procurava enxergar, mas os olhos tinham ficado cegos de neblina e comichão, e as lágrimas esperavam no nevoeiro, rouquejando inutilmente no cais, como um enxurro de batelões, destroços e alcatrão, de quem já não espera caravelas.
Ela disse sorrindo, com esforço, antes de perder os sentidos: "Não custa tanto como ter um bebé... Sabes?".
E ele ergue-a, juntando-lhe ternamente a cabeça, como um anjo caído desertor, caído pela segunda vez. Mas para o Céu.