José Maria da Silva, nasceu a 26 de março de 1938 na aldeia de Pirescoxe, freguesia de Santa Iria de Azóia, entalado entre dois conflitos que abalaram a Europa e o Mundo e a assumida preferência de sua família, nomeadamente de sua mãe, pelo nascimento, desta vez, de uma rapariga para completar o rancho de filhos até aí composto já de três rapazes e uma menina de dois anos, particularmente adotada. Não houve rejeição, de modo algum, pelo seu nascimento e, se tivesse sido uma menina, não seria certamente mais bem-posta na vida.
Ainda criança, com apenas seis anos, foi indelevelmente marcado por um acontecimento, que jamais esqueceria. Em maio de 1944, na sequência das greves pelo pão na zona industrial de Lisboa, viu o seu pai atirado para as prisões do regime (Estado Novo), reduto dos presos políticos da cadeia de Caxias, onde permaneceu noventa dias sem direito a visitas.
Numa das idas dos familiares aos portões da cadeia, uma passagem vivida à margem das determinações arbitrárias e de puníveis desobediências, veio assinalar que nem tudo o que parece é.
Retirado do colo de sua mãe, que o mostrava de longe a seu pai, foi levado por um guarda da Guarda Nacional Republicana em serviço de vigilância à presença do pai por escassos minutos. Todos os que presenciaram ficaram pasmados com tal atitude.
1958, ano em que é alistado para o serviço militar obrigatório, resultando na sua incorporação, em abril de 1959, no Grupo de Companhias de Trem Auto. A partir daí conta-se a estória de quatro anos arrancado à família e à vida a que qualquer jovem cidadão tinha direito.
Se antes já abraçara as lutas antifascistas, regressado da guerra colonial, em 1963, entrou na conspiração contra o estado autoritário e colonialista, sempre a coberto da sua 1.º de Agosto, na secção cultural e outros setores, assim como na direção central de que fez parte durante vários mandatos.
Quando se luta pela democracia, e após a conquista da liberdade, não se pode descurar a vigilância e tudo deve ser feito para a sua consolidação, pelo que, sucessivamente, participou na elaboração dos cadernos eleitorais (ainda manuscritos) e respetivas atualizações anuais, e em todas as coligações da esquerda consequente – FEPU e APU – servindo como autarca até ao advento da CDU, que sempre apoiou.
Tudo o que o autor quis passar a escrito, nomeadamente, as passagens que obrigavam ao máximo rigor, sem ferir a verdade dos factos, não deixa de ter – obviamente – vincada a sua própria interpretação, mesmo nas simples narrações dos acontecimentos. A intenção primeira foi narrar os factos, mas não se deixa, aqui e ali, de romancear, aligeirando-os, como cereja no topo do bolo.