“Um velho barco de madeira largara das costas de Inglaterra no século dezassete. Aproa à América. Leva dentro um bando de perseguidos. São pobres mulheres, de mãos delicadas, fidalgos que vão arrotear a terra, abrir alicerces, construir casas, através de uma existência incerta. Atravessam o mar. Que pesa na existência do mundo o barco Mayflower, perdido na escuridade da bruma, com um bando de heréticos a bordo? Nada – e é da fé, da obstinação desta gente, que nascem as raízes que mais tarde se hão-de apoderar de todas as consciências. Anos volvidos atrevem-se e pronunciam enfim estas palavras: “Os homens foram criados iguais; foram dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis e entre eles a vida, a liberdade, o direito de procurarem a ventura”. Di-las uma gente pobre e convencida, que, para fugir aos ódios religiosos, atravessou o oceano e procurou a floresta e uma terra selvagem para desbravar. Entranham-se no coração dos humildes. Era decerto um povo grosseiro, mas cada homem, cada raiz imensa deitada ao céu, cada raiz enorme agarrada à terra. São frases, é a dor estreme que vem à supuração. Pronunciam-se num canto remoto, vão repercutir-se no globo”.