Acaijo, leiba, menoal, roxis, …, palavras escolhidas ao acaso neste “dicionário”, estranhas para todos os que não viveram no interior norte de Portugal de há 50 anos, e antes. Em que ir ao Porto, do Marco de Canavezes, nas 3 a 4 horas que demorava, era uma viagem rara, quiçá para alguns ficando em sonho apenas.
Neste livro despretensioso pode encontrar-se um interessante contributo para a memória cultural do nosso país, de uma das regiões mais pobres dentre as pobres, de povo humilde e ignorante, a quem não foram, então, proporcionadas opções para se elevar. Ler, escrever e contar era quanto bastava, segundo a ordem reinante.
Felizmente, mesmo com tudo o que ainda não está bem, cada vez menos somos o Portugal refletido nesta memória.
A Educação tem vindo a ser para todos e, com ela, a perda do ser antigo é inexorável. E ainda mais com o Mundo como ele hoje é, global, interligado com os telemóveis no bolso de cada um, a Internet, a televisão com 100 canais, …, e em que os conteúdos são mais ou menos estereotipados. Neste quadro, as subculturas ficam condenadas ao esquecimento, não haja o cuidado e iniciativa, como a do Autor, em registar o que a sua memória ainda guarda.
Não se espere um “dicionário” puro e duro, técnico e frio; antes uma obra empírica, “pincelada” com notas pessoais que tanto quanto as palavras dicionarizadas, mostram hábitos e comportamentos antigos, uns esquecidos, outros perdidos porque inadmissíveis nos tempos de hoje.
E, por fim, a obra espelha a importante marca que alguns Professores deixam em cada um de nós, e que nos moldam para o que nos tornamos: referências de valores e de comportamento, e também de amizade e companheirismo.
Uma obra a ler, de seguida ou salteadamente.