Em Uma Cidade Qualquer

Alfredo Bomfim

Alfredo Bomfim

Como tudo mais em Marcos Taborda, seu pé direito também era pesado. O presidente da Câmara dirigia como um louco pela estrada que, neste ponto, já era asfaltada. A transmissão automática do veículo luxuoso permitia que guiasse com apenas uma das mãos, enquanto a outra segurava a arma. A seu lado, Arlindo Machado tremia sem parar. A cada solavanco precipitado pelo asfalto irregular, temia que a arma disparasse acidentalmente. Desesperou-se ainda mais ao refletir sobre sua situação precária e concluir que Marcão não precisava de um buraco na estrada para estourar seus miolos, bastava decidir fazê-lo. Estudando a fisionomia do homem enfurecido, pensou que essa hipótese era cada vez mais plausível. Olhou pela janela e calculou que saltar do veículo àquela velocidade seria uma forma trágica de suicídio. Uma bala na cabeça, por outro lado, talvez fosse indolor. Com a pequena dose que lhe restava de autocontrole, optou por permanecer imóvel e calado. Ao longe avistou a Ponte Nova, por onde deveriam escapar. Faltava pouco, qualquer que fosse seu fim.

Utilizamos cookies próprios e de terceiros para lhe oferecer uma melhor experiência e serviço.
Para saber que cookies usamos e como os desativar, leia a política de cookies. Ao ignorar ou fechar esta mensagem, e exceto se tiver desativado as cookies, está a concordar com o seu uso neste dispositivo.