Ida e Volta (de um batedor)

A. Soares A.

A. Soares A.

Fumei, primeiro, refumei, depois, embasbacado sempre para os campos à
desfilada.
Uma vez encharcado em nicotina, julguei-me apto a desfilar também.
E andei corredores, espreitei compartimentos, espiei o que pude, matando o tempo,
que recusava a ser morto, a multiplicar segundos, a alongar os minutos,
obstinadamente.
Não me dei por vencido e busquei distracções.
Sorriu-me a sorte, na figura imprevista de uma loira luminosa, à distância de um
nada, cigarro nos lábios, mais por desfastio que por vício.
Sumiu-se a timidez congénita que tanto me prejudica numa sociedade de
competição e ódio.
Necessidade e dor fazem milagres, transfiguram, agigantam.
Logo forjei pretexto de abordagem: do maço de cigarros extraí um e fingi absoluta
impossibilidade de o acender, por falta de fósforos, isqueiro, material incendiário.

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