Este livro, como quase todos os livros que escrevo,
saem da profundeza da minha memória como a lava de um vulcão
que acorda de repente, depois de anos e anos de consciente quietude.
Escrevo impelido por uma força que não entendo, porque não me entendo.
Os acontecimentos que revivo e que descrevo, quase não me dão tempo
para os rever ou repensar, tal a força que trazem dos tempos idos.
Brotam como se violentamente acordados de um sono acontecido.
Como se já escritos no tempo e no espaço de outros tempos.
Acontece relatar o que vivi simplesmente porque acontece.
Escrevo porque descrevo e, neste estar das recordações
ausento-me de mim como se a minha alma já tivesse partido
e me recomendasse a escrita para uma vivência feliz.
Escrevo teimoso e esperançado em ser lido,
como o agricultor que cultiva a semente vive a esperança
de ver vingar o que semeou.
Já escrevi isto, mas não me canso de o repetir.
Gostava de morrer a escrever.
Repentinamente!