Paz na guerra

Teresa Marques

Teresa Marques

1º Aerograma do Barros

 

Meu querido amor,

 

É-me cada vez mais difícil tolerar tudo isto: a fome, a falta de água para beber, os colegas, sobretudo os autoritários e aqueles que exultam com a guerra, alimentando-se dos confrontos com o inimigo, seja ele qual for: os pretos ou qualquer camarada que pense de forma diferente da sua ou que lhes pareça fraco ou passível de ser atacado.

 

Mas, o que me custa mais a aguentar é, sobretudo, o medo.

 

Medo de ser o próximo a perecer num ataque, de ficar deficiente, sem uma perna ou um braço, medo de não conseguir escapar desta guerra, desta sina que todos os varões portugueses são obrigados a cumprir durante dois anos, defendendo com orgulho e até à morte as terras que ocupámos barbaramente há séculos e que pertencem, dizem eles, por direito aos portugueses, tendo estes, nós, a missão, quase divina, de livrar os nativos das suas tradições e das suas crenças, tornando-os submissos e obedientes, sem ideias próprias, quase robôs.

 

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