Quando as manhãs eram flor

Pedro Belo Clara

Pedro Belo Clara

«Os portões abrem-se de par em par, obedecendo ao firme impulso das mãos secas de manhãs. Estilhaçam-se com o esforço, num esgar mudo de pele rasgada, as heras que envidraçavam o lugar de abandono, cedendo a uma pressão tão faminta quanto essa ânsia animal de romper a virgindade do que foi bebido. 

A rugosidade das pedras batidas por passos de cautela semeia poeiras subtis, os líquenes das superfícies abertas à erosão (de tempo ou gente?) cintilam numa estranha melodia de musgo fendido na quentura duma luz que não há.

Os lugares têm uma sonoridade própria. Cada recanto, cada cheiro, cada ausência rendida à invasão solar. A morte do vivido é velada por profundos silêncios.»

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