elena
“escrevo devagar
as palavras são dolorosas
é difícil a arte de as domar para que sejam frias
quase selvagens
procuro dominá-las e digo-lhes
as palavras estão mortas
é quando sinto medo deste desassossego
é quando sinto medo
as pessoas falam
precisam de falar
de comer de dormir
de andar nuas pelas palavras
e volto a sentir medo de todos os sinais
de todas as máscaras
talvez eu seja eterno nas palavras
e tenha medo que me vejam nu
tenho de matar-me
não sou herói e tenho medo
por isso resmungo aos espelhos
que me perseguem e invocam sombras absurdas
os espelhos e as sombras perseguem os homens
as mulheres
os girassóis
talvez por isso a minha escrita se esconda na lentidão da ideia
e prefira rasgar o silêncio
sorrateiramente”