Vão-se sucedendo histórias que revelam, em unidades hoteleiras, equipas de trabalhado chefiadas e prejudicadas por homens imorais, irresponsáveis e aldrabões.
Umas botas de caçador esquecidas por um cliente, que o senhor Y quer usar em proveito próprio e o carro para o serviço do hotel que os funcionários protestam em mau estado mas o senhor Y considera em boas condições: são estes os primeiros traços dos sujeitos desta história, envolvida pelos cheiros do Alto Alentejo, pacata Vila de Alter do Chão, pela maresia da Ericeira e alguns pontos de Braga.
«Quem consegue trabalhar com uma pessoa assim?» - pergunta a amiga.
«Pessoas como eu, que têm que se sujeitar a pessoas como estas», responde a personagem que dá o fio condutor à novela de Maria Delfina Gama. Esta profissional da hotelaria descreve na primeira aventura narrativa, sem requintes literários mas com a crueza do que conhece, ambientes em que os empregados que precisam de vender o seu trabalho para ganhar o dia-a-dia se submetem por necessidade às arbitrariedades de patrões imorais que abusam das suas prerrogativas.
«Não deixes que os senhores Y`s tomarem conta da tua vida», recomenda a amiga Carla. A narradora vai suportando, porque há vida para viver, um peixe grelhado para degustar com mar ao fundo, uma capela para passear, a Foz do Lizandro, Ribeira d`Ilhas e outros lugares para fruir à volta das ruas despojadas, entre o Outono e a Primavera, da Ericeira.
Se não aproveitarmos a nossa vida, de nada serve aguentarmos os Y`s da vida, embora nos ensinem muito e, especialmente, a ver a vida com uns olhos diferentes daqueles que sempre tiveram a sorte de não encontrar nenhum Y no seu caminho.
Mas quantos são os que não encontraram na sua vida pelo menos um senhor Y?
