Veio-me à ideia o conselho de um amigo, daqueles a quem até podemos contar os sonhos, que não deixa escapar palavra ou sentimento e se vincula ao compromisso, como se fosse sagrado, lavrado em escritura pública, timbrado a sangue, testemunhado pelos deuses:
“Às vezes devemos caminhar dentro de nós, respirar folgadamente o oxigénio que nos sobra, descomprimir… - e quando somos tentados a pensar, ou a fazer seja o que for, não devemos vacilar para sermos apanhados pelo que ficou por dizer, pelo que se disse, não querendo, pelo que se soltou da imaginação!
Por isso, aconselha o amigo: - preocupa-te em arrumar os pensamentos no arquivo dos silêncios, onde só mexe quem tem a chave que combina com dispositivo electrónico guardado na barriga do velho embondeiro.
Sim, embondeiro que escondeu as folhas na terra, deitou as flores brancas no chão, mostrou as raízes, fingindo de morto para desprevenir!
Sim, embondeiro, que tem olhos no inimigo, e quando mexe os braços… o espectáculo acabou!”
António Cordeiro da Cunha