Tomás um jovem jornalista emigrado para França deixou um conjunto de escritos a um colega e amigo deixando ao seu critério o uso a dar-lhes. Apercebendo-se que a responsabilidade que lhe fora dada era algo que não lhe desagradava, não deixava de pensar que estava a invadir um espaço e um tempo que só ao seu amigo pertenciam. Ao entrar pela leitura dos escritos e sem qualquer surpresa, sentiu que havia consistência e coerência nas histórias que o amigo lhe deixara. Tomás mostrava que era um bom observador do mundo que o rodeava, nomeadamente, do universo feminino, e que conseguia ficcionar, com uma escrita simples, os murmúrios do passado, as questões complicadas do carácter ou das relações entre as pessoas. Confidências da consciência que marcava por palavras, mas mostrando que se as palavras são vida, a vida é muito mais que palavras. Tomás percebera bem algumas das vicissitudes do acto de existir. E que viver, não é mais que uma luta permanente entre o que se tem e o que se deseja. E entre esses opostos se cria uma teia de jogos, quase sempre sem regras, e se as houvesse seriam incompreensíveis e repletas de contradições insondáveis. À medida que espantava a sua própria solidão, no embalo das reflexões do amigo, deu-se conta que a vida de Tomás se encontrava dispersa nas folhas que lhe tinha deixado...